segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Você pertence às coisas que te pertencem


Há muitos anos atrás, encontrei um conhecido, num ônibus, e iniciamos uma conversa. A internet ainda, por aqui, não era realidade. Portanto, faz tempo, bem início dos anos 1990. A certa altura, ele virou-se para mim e disse: "Entramos numa era em que as potencialidades serão maximizadas. O talentoso terá chance de se expandir bem mais, mas o medíocre também. Ambos poderão maximizar suas "potencialidades"."

Vivemos nessa era de hipérboles, onde há um exagero internacional na expressão. Uma espécie de função exponencial, que pode ser crescente ou decrescente a depender do valor base. O problema, acredito, encontra-se na base e , isso é o que preocupa. É o paradoxo criado por esse ambiente virtua multiplicador, que dispõe para todos, indistintamente, suas ferramentas poderosas. E os virtuosos quanto os tacanhos estão sobre o mesmo tabuleiro cibernético. As qualidades e os defeitos possuem terreno fértil nessa era, porque pertencemos às coisas que nos pertencem. Se a sabedoria senta-se na poltrona ao lado e, é amiga de todas as horas, pertencemos a ela. Se a mediocridade senta-se no sofá ao lado e, é companheira de todas as horas, pertencemos a ela. Uma espera sabe que tudo tem o seu momento, o instante do salto, do incontrolável que comporta possibilidades. Não é porque plantou a semente que se sabe como a planta irá crescer. A outra não é imediatista, esbaforida, quer resultados imediatos. Quando somos criativos, muito se deve ao tipo de música que ouvimos e esta afeta nossa maneira de perceber a vida, o mundo. O mesmo se dá se tivermos a companhia de quadros gloriosos, seja em visitas a museus, seja em galerias ou em casa. Uma estante com bons livros não apenas os sustenta, mas revela que as ideias circulam, e junto a essas ideias, os quadros, as boas músicas fazem com que nós pertençamos a eles.

A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres. Mas existem escolhas e, estas são filhas órfãs, elas dependerão de uma decisão solitária, que será como um pai. Haverá pertencimento, independente da qualidade das escolhas, elas nos pertencerão. E nós a elas. Dependerão dos likes, dos cliques e das barras de rolamento, que podem trazer elevação ou perdição.

JG Fajardo

Nenhum comentário:

Postar um comentário